Claudio Soares SampaioColunista

E AGORA JOSÉ? – RECOBRANDO O ÂNIMO NA CAMINHADA

Carlos Drummond de Andrade, famoso poeta mineiro compôs o também famoso poema “José”, publicado em 1942, em plena atuação do Estado Novo no Brasil. E é desse poema que gostaria de extrair um tema para reflexão hoje.

No tempo da composição do referido poema, de acordo com Maria Isabel Londero (graduada em Letras pela UFSM), uma série de acontecimentos políticos e econômicos marcavam a sociedade brasileira, tais como a repressão política; o preconceito institucional; a precariedade das condições de trabalho; a modernização industrial; a implantação e a afirmação de condutas autoritárias; a urbanização dispersiva. Esses acontecimentos tornam-se agravantes da situação de miséria enfrentada pela população e resultaram em uma disjuntura social. Desta, originou-se, principalmente, a desigualdade de privilégios concedidos à sociedade, intensificando, ainda mais, a formação de classes opressoras e oprimidas.

Desse modo, a figura de José vem nesse poema, como representação de um problema coletivo. O poema todo está centrado na reflexão sobre a existência de José que resiste e segue vivendo. Começa e termina de forma interrogativa o que vem enfatizar o problema do direcionamento da existência. A questão enfrentada por José era como encontrar o caminho em seu momento de escuridão.

Desde o começo, o poema evoca a sensação de perda, de esvaziamento, que é transmitida através de uma seqüência de símbolos que revelam de maneira nítida uma situação sem saída. Quando se direciona para o fim, o que vemos é e a falência das tentativas de José para resolver seu problema. Nem os versos, nem o delírio, nem as leituras, nem a riqueza, nem a revolta, metaforizadas no texto, se mostraram suficientes para que ele vença sua crise. Ao término do poema, José marcha solitário, sem rumo e sem horizonte. As palavras “você marcha” expressa a única reação desnorteada do personagem. Perdido, sem nenhuma forma de apoio, nenhuma forma de liberdade, privado de qualquer recurso – parede nua, teogonia, cavalo preto – José recorre ao seu próprio corpo. E enquanto José segue, Drummond pergunta: “Você marcha, José / José, para onde?”

Escrito em uma ocasião de desalento do poeta em sua relação com o mundo e a existência, o poema se encontra carregado de sentido existencial. Nele, Drummond buscava expressar a figura do homem angustiado, preso a um mundo escuro e sem esperança. E nesse sentido, o poema de Drummond reflete a caminhada de todos nós, quando desanimados frente ao desafio da vida. Há um momento em que nos vemos sozinhos no escuro, sem amparo e sem direção. Em quantas ocasiões nos sentimos com o coração carregado de incertezas? Ocasiões em que nos vemos desamparados, sem perspectivas, solitários em nossas próprias limitações e medos? Nesses momentos, não precisamos realizar a caminhada sem rumo de José. Podemos encontrar sim, o amparo que o nosso coração necessita.

A Bíblia mesmo relata sobre aqueles que acuados pela angústia do dever e mergulhados no desânimo, se viram presos a uma situação de desamparo e também fizeram a caminhada sem rumo, mas obtiveram de Deus o socorro de que precisaram.

Elias foi um desses personagens. Depois do longo trabalho feito para Deus e pela nação, e ver pouco resultado, o profeta mergulhou nas trevas da solidão e do ostracismo e se pôs a caminhar a esmo. Moisés também teve um começo impulsivo, baseada na força humana. Sua luta fracassou e caminhou sem rumo em direção ao deserto de Midiã, sem saber para onde ia. E Jacó, que mentiu para seu pai e enganou seu irmão, motivo pelo qual caminhou solitário no deserto, e que à hora de dormir, tinha apenas uma pedra como travesseiro? Mas Deus foi encontro desses homens e os reorientou no caminho.

E bem aqui está a diferença daqueles que têm o Deus Eterno por seu auxílio: quando diante da sensação de desamparo, não são deixados a caminhar sem rumo. Nesses momentos podem eles encontrar de Deus o amparo que o seu coração necessita. Ele dá não só o apoio, mas também o direcionamento para seus cansados passos.

Me recordo de modo especial da experiência dos apóstolos, no do dia seguinte ao da crucifixão. Depois do fracasso na sexta-feira, quando deixaram seu Mestre à mercê dos inimigos, estavam reunidos outra vez. Cheios de medo e vergonha, para eles aquele sábado foi o dia mais longo de sua vida como discípulos de Jesus. Eles, que tudo haviam deixado por amor a Jesus, viam com a Sua morte, a a convicção de que tudo havia acabado. E enquanto os Onze se encontravam trancafiados, dois discípulos deixavam Jerusalém.

Ao saírem para Emaús, Cleópas e seu companheiro representava o desalento de todos. Era a caminhada da desesperança e do fracasso. Mas enquanto seguia pelo caminho, um estranho se aproximou deles. E no travar do diálogo, novas esperanças surgiram no coração de ambos. Tudo ganhava novas cores ao ouvirem a explicação tão clara das promessas das Escrituras. A noite caía, e ao se achegarem ao recinto, convidaram o estranho para com eles repartir o pão. E foi à mesa, no partir do pão que então compreenderam: Era o SENHOR! E Ele então desapareceu de diante deles.

De repente, Cléopas e seu amigo estavam outra vez, sozinhos. Todavia agora, mesmo sem ver, se sabiam acompanhados. Jesus seguia com eles, e Sua presença dava o alento de que precisavam. retrocederam a Jerusalém na mesma noite, e anunciavam a alegria que agora experimentaram, sabendo que haviam visto Aquele que os amava mais que a própria vida. Estavam, agora, definitivamente restaurados.

Dirijo-me a você, caro amigo e irmão de jornada. Talvez você agora se sinta perdido no caminho. Talvez seu coração esteja cheio de dúvidas e de medos, e nesse momento, se encontre confrontado pelos mesmos desafios e angústias que assombraram Jacó, Moisés, Elias, aos apóstolos. Seriam temores infundados ou verdadeiros? São sombras espirituais ou físicas? Não importa. A boa nova do evangelho é que você pode reencontrar em Deus o ânimo para a jornada, o rumo para seus cansados pés. E do modo como veio a esses homens falhos da Bíblia, ele virá sempre ao encontro daquele que nEle espera.

Coragem! Pois se você conhecer ao SENHOR, você encontrará nEle o seu propósito. Como Cleópas, pare a caminhada e convide-o para entrar. Se convidá-Lo, Ele entrará, ceará contigo e te dará novas forças. Embora seus olhos não percebam, você não estará sozinho.

Ouçamos neste dia a mesma voz mansa que falou aos apóstolos após a ressurreição: “Não tenham medo!”; “Eu estarei convosco todos os dias”. Caminhemos hoje à luz dessa promessa, pois enquanto seguirmos em confiança, é certo que Ele seguirá conosco. –

Claudio Soares Sampaio.

Fonte: http://pastorclaudiosampaio.blogspot.com.br

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